Quando
me levantei às 4:30 não podia imaginar que nesse dia eu faria a viagem mais
bizarra de todas nessa trip pela América Central. Eu não quis pagar US$ 70 por
um shuttle de Copan Ruínas até Flores e decidi fazer o trajeto nos ônibus de
linha comuns. Foi muito louco, mas adorei a experiência.
Às
5:30 eu já estava na garagem de onde saem as vans (US$ 1) para El Florido na
fronteira com a Guatemala. Meia hora depois já estava na imigração onde se paga
US$ 3 para sair de Honduras e passar por um interrogatório no lado
guatemalteco. Foi a única fronteira onde eu tive que responder várias perguntas
e ainda apresentar os cartões de crédito (que tem que ser nominais). Existe um
controle mais rigoroso nessa fronteira, porque há um fluxo muito grande de
imigrantes ilegais para os EUA oriundos de El Salvador e Honduras passando pela Guatemala e pelo México.
Entrada liberada, peguei a van para Chiquimula (US$ 3) onde eu pegaria o ônibus para Flores.
A
van estava completamente vazia e eu me acomodei confortavelmente em um dos
bancos. Isso foi por pouco tempo, pois o motorista ia parando na frente das
casas buzinando e lá vinha uma criança de uniforme. Era o horário de ir para a escola e não demorou
muito para a van ficar lotada, crianças em pé, no colo de outras e o pior:
penduradas na porta que ficou aberta o trajeto todo. No meio do caminho me
mandaram descer e pegar outra van, pois aquela demoraria muito tempo levando as
crianças em diferentes escolas. Outra van foi interceptada e o cobrador pagou a
minha passagem para o outro cobrador. O problema é que estava lotada e dessa
vez eu é que tive que ir pendurada na porta.
Cheguei em Chiquimula às 9:00 e comprei a passagem para Flores(US$ 14) na empresa Maria Elena (saída às 10:00). Com tempo de sobra fui tomar café e comer pão com ovos mexidos (US$ 2).
O
ônibus saiu do terminal lotado, muita gente em pé. Ao passar por um posto
policial, tivemos que nos identificar e mais da metade das pessoas que estavam
no ônibus tiveram que descer por não possuir nenhum documento. Depois de uma
hora, muita choradeira e bate-boca, as pessoas voltaram para o ônibus e
seguimos viagem.
O ônibus não pára em nenhum lugar para os passageiros usarem o banheiro, nem fazer lanche. Quando o ônibus pára em algum ponto, há uma invasão de vendedores ambulantes trazendo refrigerantes, frutas e doces. Os homens descem e fazem xixi ali no acostamento mesmo, as mulheres tem que aguentar. Em doze horas de viagem houve somente uma parada para as mulheres usarem o toalete. Mesmo assim não fiquei com vontade de ir ao banheiro, acho que o calor e a transpiração excessiva retiraram todo o líquido do meu corpo.
Ao meio-dia uma senhora carregando panelas de comida sobe no ônibus e começa a vender o almoço servido em um pequeno pratinho plástico: carne, frango ou peixe acompanhado de arroz, feijão e tortillas. A mão que recolhe o dinheiro é a mesma que pega a comida e põe no prato e da mesma forma, o passageiro usa a mão que entregou o dinheiro para comer, porque não há talheres, tem que comer tudo com a mão. Acho que todos que estavam no ônibus, menos eu, pegaram um prato de comida, inclusive o motorista, dirigindo e comendo com a mão. Terminada a refeição, joga-se tudo pela janela: pratinho, restos de comida, latinhas de refrigerante.
No meio da tarde o ônibus pára no acostamento junto a outro ônibus que vinha em sentido contrário, igualmente lotado. O cobrador do nosso ônibus informou que haveria uma troca de ônibus e mandou todos descerem e entrarem no outro ônibus. A troca de passageiros foi rápida, o que demorou foi tirar a bagagem de um ônibus e colocar no outro. Alguns passageiros estavam levando cargas enormes.
Meia
hora depois estávamos prontos para seguir viagem, mas sinceramente achei que
não íamos sair do lugar. O ônibus estava destruído: lataria amassada, janelas
soltas, quase caindo, vidros estilhaçados. Certamente havia sofrido um
acidente, mas contrariando todas as expectativas, andou.
Escureceu e nada de chegar a Flores. O que mais iria acontecer? Para fechar com chave de ouro, baratas começaram a passear sobre os bancos. Senti algo subir pela minha perna, me sacudi toda e consegui me livrar do bicho. A solução foi enfiar a calça dentro das meias para bloquear o acesso.
Às
19:00 o ônibus chegou em Flores, ou melhor em Santa Elena. Ainda tive que pegar
um tuc-tuc(US$ 0,70) para chegar a ilha de Flores. Eu tinha uma reserva no
Hotel Green World (US$ 15).
Flores
é um lugar encantador, uma pequena ilha no lago Petén Itzá ligado a Santa Elena
por uma ponte. É possível dar a volta na ilha em 15 minutos e apesar do
tamanho, há um grande número de pousadas e restaurantes.
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